Dora, se casou. Ela é médica. Pediatra. Criatura doce, gente boa toda vida, inteligente, formadora de opinião.
Aos 41, nunca havia se casado. No ano passado, fez uma obra no consultório que durou – como toda obra – muito mais do que o previsto. A convivência diária criou um clima entre ela e o marceneiro. Mês passado, resolveram morar juntos.
Jorge, 33 anos, o marceneiro, vem de classe média baixa, do subúrbio, mas melhorou de vida graças ao seu talento. Tem uma pequena equipe de três ajudantes e a agenda cheia. Mais cheia que a de Dora. Quem um dia procurou um marceneiro sabe que eles estão cotados a peso de ouro.
É um cara animado, parece bom caráter e gosta muito da mulher, que está bem feliz.
Mas parece que a família e os amigos dela não estão.
Nossa amiga em comum, Bia, me encontrou semana passada e não deixou barato:
- Como assim a Dorinha está namorando esse marceneiro? Ela estudou, é uma pediatra respeitada, quarentona, chique, mora em Ipanema…No domingo passado foi no aniversário da cunhada no Irajá comer churrasco e ouvir pagode! Voltou dizendo que foi muuuuto divertido, mas é claro que é mentira, né? Imagina. A Dora só ouve MPB da boa, conta outra! Os pais dela estão de cara no chão com essa história…
Não sei se Dora gostou do pagode no Irajá ou se disse que gostou apenas como defesa, como acredita a Bia. Pra mim importa apenas que ela esteja feliz. O que me incomodou foi a raiva com que nossa amiga em comum falou sobre seu romance. Estamos em 2012, ela é uma profissional liberal que me parecia esclarecida e vivemos numa cidade como o Rio de Janeiro, tão misturada, onde as classes sociais se encontram nos mais variados espaços.
Um lugar em que rico vai ao morro pra dançar funk, onde pobre aprendeu a curtir música clássica. Uma cidade cada vez menos partida. Mas ainda existe essa mentalidade.
Uma mulher bacana, um cara honesto, uma paixão. Não pode?
Ou será que o preconceito é o mesmo, as pessoas apenas disfarçam?
Fonte:Martha Mendonça-Época
Aos 41, nunca havia se casado. No ano passado, fez uma obra no consultório que durou – como toda obra – muito mais do que o previsto. A convivência diária criou um clima entre ela e o marceneiro. Mês passado, resolveram morar juntos.
Jorge, 33 anos, o marceneiro, vem de classe média baixa, do subúrbio, mas melhorou de vida graças ao seu talento. Tem uma pequena equipe de três ajudantes e a agenda cheia. Mais cheia que a de Dora. Quem um dia procurou um marceneiro sabe que eles estão cotados a peso de ouro.
É um cara animado, parece bom caráter e gosta muito da mulher, que está bem feliz.
Mas parece que a família e os amigos dela não estão.
Nossa amiga em comum, Bia, me encontrou semana passada e não deixou barato:
- Como assim a Dorinha está namorando esse marceneiro? Ela estudou, é uma pediatra respeitada, quarentona, chique, mora em Ipanema…No domingo passado foi no aniversário da cunhada no Irajá comer churrasco e ouvir pagode! Voltou dizendo que foi muuuuto divertido, mas é claro que é mentira, né? Imagina. A Dora só ouve MPB da boa, conta outra! Os pais dela estão de cara no chão com essa história…
Não sei se Dora gostou do pagode no Irajá ou se disse que gostou apenas como defesa, como acredita a Bia. Pra mim importa apenas que ela esteja feliz. O que me incomodou foi a raiva com que nossa amiga em comum falou sobre seu romance. Estamos em 2012, ela é uma profissional liberal que me parecia esclarecida e vivemos numa cidade como o Rio de Janeiro, tão misturada, onde as classes sociais se encontram nos mais variados espaços.
Um lugar em que rico vai ao morro pra dançar funk, onde pobre aprendeu a curtir música clássica. Uma cidade cada vez menos partida. Mas ainda existe essa mentalidade.
Uma mulher bacana, um cara honesto, uma paixão. Não pode?
Ou será que o preconceito é o mesmo, as pessoas apenas disfarçam?
Fonte:Martha Mendonça-Época
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