Alguém é apresentado a você como doutor em psicologia. Após um bate-papo descontraído, ele diz: “Você tem uma forte necessidade de ser amado e admirado. Tem tendência a ser crítico consigo mesmo e até chega a duvidar de si mesmo. Você tem grandes capacidades que não está explorando como devia...”
Muita gente achará este sujeito iluminado.
O que você pensaria disso? É comovente. Ele acertou em cheio. Você sente um desejo de contar a todos que ele teve uma completa clarividência de sua vida.
A maioria das pessoas a quem se apresente uma descrição repleta de lugares-comuns como esta tende a pensar que trata-se de sua mais precisa fotografia.
E não acontece só com brasileiros.
Um grande jornal francês fez uma experiência. Enviou um "diagnóstico astral" bem parecido com a declaração do nosso guru a cinco mil pessos que, em resposta a um anúncio, já haviam se cadastrado previamente. Quatro mil e trezentas ou 86% declararam-se satisfeitas, e se reconheceram perfeitamente descritas no texto do diagnóstico – que era o mesmo para todas.
É exatamente isso o que fazem a grande maioria dos livros e vídeos de auto-ajuda e os charlatães que ganham dinheiro com palestras de motivação e propostas de como ficar rico apenas pensando positivo.
“Picaretas” crescem como mato em qualquer sistema ou economia. O absurdo está no número astronômico de pessoas ingênuas que fazem desses contos da carochinha os provedores da motivação de que precisam para o trabalho e para a vida.
Motivação não é isto! Motivação nada tem com palhaçadas, palavreado bonito e conveniente às carências coletivas.
A única forma de qualquer pessoa sentir motivação é tendo uma razão e um sentido naquilo que faz ou propõe-se a ser – um motivo real porque ela existe. Sem isto ela acabará depositando sua esperança em coisas vazias.
São pessoas nesse estado que infelizmente sustentam a horda de vigaristas e sanguessugas que, identificando a fraqueza humana, transformam-na em meio de vida sob o formato de palestras, religiões e golpes de grande monta.
ABRAHAM SHAPIRO